sexta-feira, 20 de novembro de 2015

ARTE...! O QUE É?

Por Agnaldo Tavares




Imagem Internet: performance Macaquinhos.



Diante a inquietação do que se deva considerar por arte ou não arte em meio as transformações tão ligeiras do mundo contemporâneo, nos perguntamos: há um conceito definido sobre o que realmente é arte? Há uma característica intrínseca ou características que se possa apontar a dois objetos e dizer, este é arte e aquele não o é?

Bem, vamos entender, ou tentar, na leitura do pensamento do poeta e critico em arte, Ferreira Gullar, o qual defende que a arte não é manifesta em qualquer pessoas, é necessário ter algo que os grandes mestres da antiguidade possuía, o que parece faltar a muitos considerados artista da nossa atualidade.

"Já eu considero uma piada achar que todas as pessoas têm o mesmo talento artístico de Leonardo da Vinci e de Vincent van Gogh ou que esse talento seja apenas mais um preconceito inventado pelos antigos. As pessoas são iguais em direitos, mas não em qualidades." (Ferreira Gullar).

Assim como o Sr. G., em O Pintor da Vida Moderna, de Baudeleire, não gostava de ser chamado de artista, mas de homem do mundo, talvez, nós, ao perceber que a palavra "arte" tenha se tornado tão banalizada, pois qualquer merda (no sentido literal mesmo) é conceituada por ela, a gente deva inventar uma nova palavra que seja melhor enquadramento àquilo que os antigos criavam e que, em nosso tempo, vulgarizou-se.

Não estou a dizer que não exista artista como antigamente, apenas que os que existem e fazem sua arte expressando-se, tentando dizer algo valioso através das ferramentas e, mais que a habilidade de que possuem, não merecem serem rotulados por uma palavra que igualam a todos a um só rebanho.

O artista, ou homem do mundo, não é um ser melhor que outros, mas um ser diferente em sua maneira de expressar-se, emprestando seus ombros para que os outros possam ver o mundo através da perspectiva que a arte oferece em possibilidades de enxergar as coisas ao seu redor, muitas vezes óbvias.


Vamos ao texto de Gullar:



"A beleza do humano, nada mais"



Confesso que, espontaneamente, nunca me coloquei esta questão: para que serve a arte? Desde menino, quando vi as primeiras estampas coloridas no colégio (que estavam muito longe de serem obras de arte) deixei-me encantar por elas a ponto de querer copiá-las ou fazer alguma coisa parecida. Não foi diferente minha reação quando li o primeiro conto, o primeiro poema e vi a primeira peça teatral. Não se tratava de nenhum Shakespeare, de nenhum Sófocles, mas fiquei encantado com aquilo. 

Posso deduzir daí que a arte me pareceu tacitamente necessária. Por que iria eu indagar para que serviria ela, se desde o primeiro momento me tocou, me deu prazer? Mas se, pelo contrário, ao ver um quadro ou ao ler um poema, eles me deixassem indiferente, seria natural que perguntasse para que serviam, por que razão os haviam feito. Então, se o que estou dizendo tem lógica, devo admitir que quem faz esse tipo de pergunta o faz por não ser tocado pela obra de arte. E, se é este o caso, cabe perguntar se a razão dessa incomunicabilidade se deve à pessoa ou à obra. Por exemplo, se você entra numa sala de exposições e o que vê são alguns fragmentos de carvão colocados no chão formando círculos ou um pedaço de papelão de dois metros de altura amarrotado tendo ao lado uma garrafa vazia, pode você manter-se indiferente àquilo e se perguntar o que levou alguém a fazê-lo. E talvez conclua que aquilo não é arte ou, se é arte, não tem razão de ser, ao menos para você. Na verdade, a arte - em si - não serve para nada. 

Claro, a arte dos vitrais servia para acentuar atmosfera mística das igrejas e os afrescos as decoravam como também aos palácios. Mas não residia nesta função a razão fundamental dessas obras e, sim, na sua capacidade de deslumbrar e comover as pessoas. Portanto, se me perguntam para que serve a arte, respondo: para tornar o mundo mais belo, mais comovente e mais humano.








Um comentário:

  1. Achei o artigo sobre a problematização da Arte bastante interessante. Eu sou professor de Arte, especificamente sobre dramaturgia, porém tenho me voltado para o assunto principalmente através da Filosofia da Arte. Presentemente estudo o pensamento do filósofo da arte Arthur C. Danto que no livro "O descredenciamento da arte" ele diz que "A questão mais importante é: quais filósofos deveriam ser reproduzidos? Minha resposta é: aqueles que podem nos dar a filosofia que a arte preparou para nós. Não sou mais do que um profeta deles". Encontro em Arthur o viés da simplicidade pela qual a Arte deve ser percebida, desenvolvida e apreciada. Fujo de dissertações tão pretensiosas quanto o próprio objeto de "Arte" em exposição. Isto é muito comum em apresentações de determinados artistas que tem excelente curadoria com textos belíssimos, e a arte propriamente não me diz nada, desprovida de significado e significante... Fui aluno do saudoso Filósofo, Professor e crítico de teatro Gerd Bornheim que por ocasião da sua dissertação sobre "A morte da Arte", tive o privilégio de estar presente. Gerd foi um homem profundamente sensível e inteligente, não era filósofo estrela, muito simples tomava café com os seus alunos calouros, gostava muito de dar aulas para as turmas iniciais, aprendíamos simplesmente ouvindo-o, sempre calorosas aulas dissertativas e o tempo-aula era curto para aquelas aulas que eram verdadeiras obras de arte. Aprendi com ele que a Arte é fruto do seu tempo, logo para ela não existe um conceito fechado e sim um conceito à luz do seu tempo, portanto a Arte não morre e como uma fénix ressurge mais que renovada sobre os escombros dos alicerces que lhe dignificam a existência. Eu, Fábio, particularmente acho que o problema da arte é o artista, e isto é um longo assunto que não quero falar sobre isso agora.

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